Não havia qualquer sinal astrológico, nenhuma estrela guia no céu conduzindo reis magos para encontrar um novo tempo. Muito menos, nas ruas, qualquer homem de fraque ou mulher de melindrosa, onde pudesse indicar claramente um retorno à antiguidade. Havia sim, uma certa paradeira no ar sem brisa. Uma falta de brilho no rosto das pessoas revelando um stop nos sonhos. Tudo isso, digo agora, recuperando o ambiente que antecedeu a esse turbilhão que entramos nos dias de hoje. Mas, de fato, era inesperado. Se fosse numa filmagem, diria que rodamos sem claquete. No futebol, uma penalidade cobrada sem o apito do juiz.
Não adianta. Aconteceu e pronto. Parece tão fácil ser pragmático e admitir essa realidade, que nesse caso vale recordar: pimenta no dos outros é refresco. Como conviver com a violência generalizada e os dólares na cueca? Como permanecermos a mercê dos fatos estampados a cada dia pela imprensa, se perdemos qualquer possibilidade de previsão? Não sabemos em que parte do túnel da crise estamos e tudo pode acontecer ainda. Essa, talvez, seja a única característica desse Tsunami. Nada prevemos e ainda pode ser pior. Por isso, resolvemos chamar esse momento “Vida Severina”. Temos uma secura na boca e nas narinas produzida por esse ambiente hostil à sensatez. Temos o desafio cotidiano da sobrevivência como qualquer sertanejo, e temos o presidente Severino, arauto e mantenedor desse tempo esdrúxulo.
A “Feira da Vila” vem com esse mote no próximo dia 21 de agosto. ”Vida Severina” é uma forma de refazer as conexões com a alegria. Enfrentando a desilusão e exorcizando as nuvens nebulosas da incerteza. Vamos todos lá, para juntos tirarmos uma casquinha desse tempo Severino. Eh! João Cabral… Usamos parte do título do seu poema “Morte e vida Severina” para mexer com esse tempo. Mas não faltará outra oportunidade de lhe reverenciar.