Não sei quando… mas vai parar

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Quando cheguei à Vila, vindo de experiências climáticas bem tropicais, a mais de quarenta anos, estranhei de cara aquela garoa diária, preferencialmente ao entardecer, e as pessoas com aquelas roupas com colete e chapéu de feltro tão necessárias para enfrentar a situação. Alguns sobreviventes desse tempo podem testemunhar tudo isso: Bartô, Rafael, Dona Lurdes (jornaleira), o bar do Alonso, a mercearia do Militão e especialmente seu Humberto (restaurante, hoje, do Betinho), onde tive uma caderneta por longos vinte anos.
Além dessa constatação saborosa dos meus primeiros dias aqui, quero observar que os automóveis eram tão esporádicos que ao cruzarem as ruas faziam enorme sucesso. Problema de estacionamento inexistia, em todo canto da Vila podia-se parar o carro com toda tranqüilidade. Tínhamos carroças que forneciam verduras, frutas e leite. Alguém pode dizer que esse cenário era próprio do nosso pedaço, mas não era. Toda a cidade de São Paulo tinha uma vivência parecida.
Esses dias, vindo do Aeroporto de Congonhas num táxi, fiquei parado no trânsito por horas. A inevitável irritação nos levou a entabularmos uma conversa, eu e o motorista, sobre essa dificuldade. “Imagine que entram em circulação quinhentos carros por dia nessa cidade”, dizia ele com segurança. É o fim do mundo, pensava aterrorizado. E ele, como se não tivesse compaixão, emendou: “Hoje ainda está andando. Outro dia passei uma tarde inteira pra ir da rodoviária até Sapopemba”. Pronto! Não tem saída. Estamos andando celeremente para o colapso do trânsito. Não sei quando vai… mas vai parar. Penso qual será a saída. Limitar o tempo de vida dos automóveis. Dez anos talvez. Porque o rodízio é pouco. Selecionando algumas experiências radicais, encontro dois exemplos entre meus conhecidos que merecem atenção. O professor Aloísio Raulino e o maestro Mauro Georgetti fizeram a opção de andar a pé. Nada de metrô, ônibus ou carros. Cruzam a paulicéia na paleta. Tentem, ou os procurem para adquirir conhecimento na matéria.

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