Dura realidade

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O rapper carioca MV Bill, 31 anos, e o dirigente da Central Única de Favelas (CUFA), Celso Athayde, 43, estiveram no Café Aprendiz, no dia 31 de março, para lançamento do livro: “Falcão: Meninos do Tráfico” (Editora Objetiva). Fruto de um projeto iniciado em 1998, o livro traz o relato dos bastidores da produção do documentário, exibido em março, pelo Fantástico, na Rede Globo, sobre o universo dos meninos que trabalham no tráfico de drogas em várias partes do País.
O principal objetivo do livro e do documentário é mostrar o lado humano destes jovens, vítimas da desigualdade social, econômica e cultural que caracteriza o Brasil, ao mesmo tempo que faz um alerta. É uma oportunidade de se discutir a questão da violência de forma aberta, dando voz a todos.
Foram seis anos percorrendo comunidades de todo o País e mais de 90 horas filmadas. Em entrevista à revista Isto É, MV Bill admite ter tratado com os chefes do tráfico por onde passou para conseguir filmar. “Sem isso, é impossível desenvolver qualquer projeto na favela”, diz ele. Para fazer “Falcão: Meninos do tráfico”, o rapper e Athayde se expuseram a riscos. E se emocionaram com as histórias e sonhos de seus personagens reais. Apesar de serem oriundos do hip-hop, Bill e Athayde não pensaram duas vezes em fazer uma parceria com a Rede Globo, muitas vezes criticada pelo movimento. “A vida inteira brigamos por oportunidade e espaços dignos. Não ocupá-los é burrice”, diz o rapper. Um número impressionante confirma o quanto é urgente atacar o problema: dos 17 jovens ouvidos no documentário, somente um ainda está vivo. Para Athayde, diretor do documentário, “Falcão não é um caso de polícia, não é uma denúncia, não é uma lamentação. Falcão é, sobretudo, uma chance que o Brasil vai ter para refletir sobre uma questão do ponto de vista de quem é o culpado e a vítima. Falcão é uma convocação para que a ordem das coisas seja definitivamente mudada”.
Além de jovens de vários cantos da cidade, ávidos por um contato com MV Bill e Athayde para conhecer melhor suas histórias, algumas personalidades também prestigiaram o lançamento do livro. Entre elas, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), o jornalista e idealizador do Projeto Aprendiz, Gilberto Dimenstein, e o ator Marcos Frota. “O livro é muito importante para que se possa refletir sobre qual é o grau de liberdade, tão limitado, dos jovens dos morros do Rio de Janeiro, das periferias de São Paulo, etc. Trata-se de uma contribuição de profundidade; um livro e um documentário que demonstram um resultado estatístico gravíssimo para o Brasil porque de 17 jovens cuja vida foi acompanhada, 16 morreram. Trata-se de algo de grande valia para a sociedade brasileira. Aguardo para ver o documentário mais completo que deverá ir para cinema”, avalia Suplicy, acrescentando que “se faz necessária a compreensão de todos nós sobre quais os instrumentos que poderão contribuir para transformar essa dura realidade, para diminuir significativamente a violência. É claro que são instrumentos que podem conduzir o Brasil a uma situação de maior justiça e de maior igualdade”.

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