Criativo em tempo integral e parece que está sempre ligado na tomada. É essa a impressão que se tem do grafiteiro, escultor e artista plástico Vado do Cachimbo no primeiro contato. Falante e com um mundo de “causos” que conta com seu jeito irreverente e alegre, acaba contagiando a quem ouve. E desde outubro passado ele, a mulher Carmem e a filha estão morando na Vila Madalena em sua chamativa casa-ateliê com paredes vermelhas e enormes esculturas e mosaicos expostos que não dá para não ver.
Vado do Cachimbo nasceu Edivaldo Luiz Álvares, em Penápolis, interior de São Paulo. Adolescente, veio para São Bernardo do Campo e foi trabalhar na Mercedes-Benz. Foi lá que aprendeu a mexer com metal. “Foi uma grande escola”, garante ele. Durante os anos em que ali viveu e trabalhou Vado, de maneira autodidata, começou a pintar quadros e, em alguns deles, retratou a agitação político-sindical que o ABC vivia naqueles anos. Em uma trilogia, retratou as assembléias dos metalúrgicos da Vila Euclides que tinha a liderança de certo torneiro-mecânico que acabou virando presidente do Brasil anos depois.
Sentindo que precisava de mais informações, entro na Escola de Belas Artes. Ao mesmo tempo em que dividia seu tempo entre a escola e a fábrica, também começu a grafitar e conheceu Alex Vallauri (1949-1987), um dos mais importantes artistas plásticos e grafiteiros do Brasil. Juntou-se ao grupo de Vallauri e passou a fazer intervenções na cidade. “Muita gente corria atrás da gente, confundindo o trabalho de grafite com os pichadores, que é outra coisa. O grafiteiro usa as paredes da cidade como suporte para expressar sua arte” esclarece Vado.
Como a carreira na indústria automobilística estava tomando um rumo que ele não queria, resolveu, apesar da perplexidade de seus pais e amigos, sair e se dedicar integralmente à arte. “Foi difícil, mas eu precisava fazer isso” afirma. Daí em diante, só viveu do seu trabalho artístico, aprendeu novas técnicas e foi trabalhar de aprendiz com o restaurador de vitrais Luis Sarasá, com quem participou na restauração dos vitrais da Catedral da Sé. “Quero transformar objetos em obras de arte” assim justifica o seu envolvimento com os mais diferentes materiais que utiliza em seus trabalhos.
As imensas mandalas, “que inicialmente eu não sabia que eram assim chamadas”, feitas de metal e misturando materiais como vidro, peças metálicas vindas da indústria, que impressionam pelo tamanho e pelos detalhes. “Sempre gostei dos círculos, pela harmonia”.
Já participou de salões e exposições aqui no Brasil e no exterior. Em seu novo espaço expõe e vende seus trabalhos. “Sempre quis morar na Vila Madalena pelo movimento artístico que aqui tem”, diz. Vado quer transformar sua rua em um corredor cultural com o auxilio dos vizinhos “que me receberam muito bem”, afirma.
O colecionador de cachimbos, que até se transformou em um dos seus nomes artísticos, veio para a Vila Madalena com toda a disposição de contribuir para que a vocação artística do lugar seja mantida e incentivada. Seu entusiasmo reflete isso.