Kelly Monteiro
Frankilin Nolla, aos 83 anos, é um exemplo de energia e alegria de viver. Nascido em Brotas, interior de São Paulo, veio para a capital ainda muito jovem para exercer a profissão de cabeleireiro. Descendente de italianos que saíram da cidade de Nolla para trabalhar no Brasil, Frankilin deixa transparecer a vontade de conhecer a terra natal de seus antepassados. “Ainda não tive a oportunidade de ir lá. Mas pretendo ir, quem sabe para comemorar o meu centenário”.
O quarto filho de Elisa e Vicente Nolla fez sua vida aqui na Vila Madalena e em Pinheiros. Ele recorda que, naquela época, o bairro começava a ser colonizado por portugueses. Uma das atividades desenvolvidas por eles era a venda de pão e leite (ainda comercializado em garrafas de vidro) de casa em casa. “Esses padeiros ganhavam uma comissão da padaria e faziam a freguesia. Quando queriam abandonar o serviço vendiam a freguesia. Era uma espécie de máfia”, diverte-se.
Há quase 30 anos como inspetor de alunos no Colégio Santa Clara, Frankilin conta que a Vila também era um reduto de “valentões”, como “o tal do Bofetada que era uma espécie de xerife”. Admirado e um pouco saudosista, destaca as modificações pelas quais o bairro passou, com o comércio, os bares, restaurantes e a vida agitada. “Naquele tempo até a iluminação era pouca, não tinha igreja, mas se vivia bem. Era mais difícil de ganhar dinheiro do que hoje. Tínhamos uma vida regrada, era preciso trabalhar muito, mas havia mais paz, podíamos sair à noite. Na Teodoro Sampaio havia footing aos sábados e domingos, guardas noturnos chamados de grilos porque usavam um apito e eram temidos por todos. Isso há mais de 70 anos”.
Bem à vontade sob a sombra de uma das árvores do colégio ele relembra os bons tempos vividos no interior e aqui na capital e se diz apaixonado pela profissão. O senhor de cabelos brancos recepciona os alunos diariamente e já viu passar pelos portões do Santa Clara diversas gerações.
Dois casamentos, dois filhos – Maxmiliano Giovaninni e Frankilin Moraes Nolla –, seu Frankilin diz que a receita para se ter uma vida plena e chegar aos 83 anos esbanjando vitalidade é viver bem com todo mundo, principalmente gostar de trabalhar e fazer isso com prazer. “Ah! E gostar de moça bonita!”, finaliza.