Kátia Gomes
Por cerca de três meses, Enio Squeff, na condição de artista plástico – já que também divide seu tempo entre um livro e outro, artigos de jornais sobre música, ou mesmo sobre política -, deixou seu ateliê na Vila Madalena para atender a uma encomenda especial, do outro lado da cidade, feita pelo Sesc Itaquera há um ano. A instituição queria homenagear a cidade de São Paulo e seus moradores com uma obra que se tornasse um referencial histórico e espécie de símbolo iconográfico de tudo o que foi, e é, a cidade ao longo de seus 450 anos de existência.
O gaúcho, apaixonado pela terra que o acolheu há mais de 30 anos, não precisou muito para conceber a idéia de marcar o fato representando, por meio da pintura, o roteiro ideológico da figura história ou mítica do santo que emprestou seu nome à antiga São Paulo de Piratininga.
A obra “De Saulo de Tarso a São Paulo”, executada pelo artista, é composta por um mural em acrílico de 120 m² e um vitral com a figura do santo, nas dimensões de 5m X 2,20m. “É a primeira obra que faço com essa dimensão, o que foi um desafio. Por outro lado, era uma coisa que eu desejava e guardava uma grande expectativa em relação ao tema. Achei que poderia intervir no espaço urbano. Lá não deixa de ser um logradouro por onde as pessoas passam e tem para mim um sentido especoal porque ali moram pessoas carentes, que nunca viram uma obra daquela tamanho”, comenta Enio.
Como a figura de São Paulo será exibida à parte, na frente do painel, foi natural que se reportasse, primeiramente, a uma idéia da gênese histórica do verdadeiro criador do cristianismo, um tema que já vinha trabalhando em “Santidades”, exposição que fez em abril passado, e também no livro “Origem dos Nomes dos Municípios Paulistas”, lançado em maio. “Entre os projetos comemorativos aos 450 anos da cidade de São Paulo, não havia nada que reportasse ao santo”, observa.
Feita em duas etapas, a obra conta, na representação de vários templos ao longo da história, em uma espécie de inventário, a saga do apóstolo Paulo, ou Saulo, nascido na cidade grega de Tarso. Na primeira etapa, o artista se concentrou em compor essa trajetória, pintando os templos que vão do Egito à capela jesuítica de 1554, passando por imagens da Grécia, do oriente cristão ortodoxo e muçulmano, das arquiteturas gótica e neoclássica e culminando com a imagem da Paulicéia. Em seguida, Enio decalcou figuras de cem voluntários de todos os sexos e idades da comunidade de Itaquera, para compor a idéia da civilização cristã. Para ele, “todos os homens são iguais, não apenas na singularidade de seus corpos, mas na universalidade, assim em São Paulo, como na história”. A etapa final, que resume o inventário sugerido pelo artista, refere-se à figura do santo, em forma de vitral, abençoando a cidade que fez aniversário em janeiro.
O resultado poderá ser visto e apreciado a partir do dia 10 de setembro, às 20h30. Durante a inauguração haverá um concerto escrito e dirigido por Willy Correa de Oliveira, interpretado por um pequeno conjunto em que predominam os metais, e a participação do Coral e Grupo de Dança do Sesc Itaquera, formados por moradores da região.