Grande Paredes

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pedro costa03-GV-SET-TGQuem já por aí o viu não esquece. Em tudo que é bar e boteco lá está o Paredes. Boa praça, grisalho, advogado atencioso e gentil. Desde o Pira Grill na Vila Madalena até o bar do Luiz Fernandes em Santana, ao boteco sem placa, garçom e sem cardápio do Ipiranga; o delicioso e simpático bar do Luiz Nozoie até o antigo bar do Léo no Centro, está o Paredes. Figura típica paulistana chama todo mundo de primo, segue de boteco em boteco e solta sem parar o seu refrão sem que ninguém lhe pergunte nada: “Malandroo, orra meu, não assina nada, viu primoo?!”. Bico doce, não usa carteira, só no prego. Já vi dono de bar tremer quando entra o Paredes. Mas, tasca logo um beijo na testa do dono outro no sujeito que está tomando uma no balcão, pega um copo e segue serrando as “brejas gel adas” de roda em roda, de papo em papo.

Na rotina dos bares, metódico sempre aparece e cada bar no dia certo. Detalhe: só durante a luz do dia. Quando “a tarde vai fechando sua cortina colorida e antes do véu negro da noite cair”, diz o velho boêmio, que já prepara a sua saída de cena. Nesta única hora senta pela primeira vez na cadeira mais próxima, fala da tontura que o jejum lhe dá devido a sua diabetes, fila qualquer salgadinho ou sanduba de alguém que se preocupou com ele e diz: “Valeu primoo, melhorei! E olha belo, não assina nada, tá? Acerta isso pra mim”.

No sábado, curando a ressaca com garapa, cruzo com o Juarez na feira e me convida pra fazermos um rango na casa dele. Pegamos o peixe, o pastel e umas cevadas. Jura, corintiano roxo, outro desbravador e descobridor de velhos botecos de alma jovem. Chega à sua varanda, apresenta uma cachaça cheirosa, corta algumas frutas da feira e as coloca no pé de limão e diz; “Veja que baita contradição, eu adoro ver esse bando de periquitinhos palmeirenses” e se emociona. Fomos fazer a digestão no boteco do Cesinha… Ouvimos uma voz ecoar lá dentro: “Primo não assina nada!”.

pedrocosta.pira@uol.com.br

 

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