Reciclagem e autoestima

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Artista plástico e grafiteiro, Thiago Mundano criou o projeto Pimp My Carroça voltado para os recicladores, dando-lhes dignidade.

Ativista declarado, Mundano, como é mais conhecido no mundo dos sprays, começou a trabalhar com o pessoal que recolhe reciclados pelas ruas da cidade quando foi pedir autorização para fazer seu grafiti e o dono de um imóvel era dono de um carrinho. Autorização dada, Mundano se ofereceu e fez um grafiti no carrinho. “Percebi que ele ficou muito contente com isso. A partir daí fui fazendo outros pela cidade, principalmente com catadores aqui da Vila Madalena, que, como eu, circulam muito pelas ruas da cidade”, conta o artista.

Desde 2007, Thiago dedica parte do seu tempo e trabalho para dar visibilidade e dignidade a esses trabalhadores através do projeto Pimp My Carroça. No início deste ano, seu trabalho recebeu o prêmio Cidadão SP na categoria Inclusão Social. “Foi legal ganhar o prêmio pelo reconhecimento, é muito importante. Mas eu divido o prêmio com esse pessoal que faz realmente o trabalho mais pesado”, diz ele sobre o prêmio recebido.

Pimp My Carroça é o nome do projeto que Mundano e outros artistas do grafiti se dedicam a melhorar as condições dos catadores de reciclagem. “A reforma consiste em melhorar as condições do veículo e equipar com itens de segurança, como adesivos refletivos para eles serem vistos por outros motoristas. Cores alegres e frases que muitas vezes são sugeridas pelos próprios donos completam a reforma”, explica Mundano. Como resultado, “eles ficam mais visíveis pelas ruas e melhoram a autoestima”, justifica.

Mundano considera que o preconceito é grande para com esses carroceiros. Mas é otimista. “Está melhorando, mas tem muita gente reclamando que eles atrapalham o trânsito das ruas. Os carrinhos não poluem e ocupam menos espaço nas ruas do que caminhões. O trabalho que fazem ajuda o meio ambiente e retira das ruas um grande volume de material que será reciclado. Penso que até a crise hídrica estaria mais aguda se esse pessoal não fizesse a reciclagem”, teoriza.

Transportar 400 quilos de material só com a força dos braços e das pernas não é tarefa para qualquer pessoa. Mundano conta que tem reciclador que transporta muito mais. Entre os que conhece e estabeleceu relações de amizade, o ativista diz que “ao contrário do que se pensa, a maioria é feliz e de bem com a vida”. Reconhece que o trabalho é pesado e “que, sem dúvida, a tração humana não é a melhor solução, mas muitos deles fazem esse trabalho há décadas e dificilmente mudariam o jeito de fazer. Acho que qualquer modificação deve levar em conta a opinião deles”.

A Vila Madalena é um dos bairros da cidade onde Mundano avalia que circulam um grande número desses carrinhos. “O papelão e o alumínio são os materiais que eles mais coletam. Alguns retiram o material diariamente de lojas. Ajudam a deixar as ruas do bairro mais limpas. E tem aqueles que são chamados, via celular, para retirar os recicláveis pelos comerciantes ou moradores”.

Não há um censo oficial, mas nas contas do grafiteiro, deve haver pelo país mais de 400 mil pessoas recolhendo recicláveis pelas ruas da cidade. Por conta desse trabalho, Mundano viajou por alguns países para falar do seu projeto. “Quando vou a qualquer cidade, saio procurando por esse pessoal para conhecer o sistema de trabalho deles. E em todas elas têm gente fazendo reciclagem pelas ruas. Onde há descarte de material e desemprego eles estão presentes”.

Mundano explica que há dois tipos de recicladores que percorrem a cidade em busca de material: os cooperados, que são minoria, e os autônomos. “Os primeiros conseguem um preço melhor por papel e alumínio que reciclam, e o resultado financeiro é dividido entre os associados da cooperativa.

Por outro lado, a maioria é autônoma e prefere ter a liberdade de sair para a coleta a hora que achar melhor e vender o que recolhe pelas ruas para ferro-velhos na cidade”.

Através de contribuição coletiva, o Pimp My Carroça espera poder reformar mais outros carrinhos de recicladores pelo Brasil. Não há um custo fixo por veículo reformado, mas, em média, o custo é de R$ 600 por unidade. “Colegas grafiteiros de outras cidades brasileiras também participam do projeto. Recentemente, isso aconteceu em Recife e Fortaleza”. Quem quiser participar basta entrar no site e participar de acordo com as suas possibilidades.

Além do trabalho com os recicladores, Mundano tem trabalho artístico em galerias e pelas ruas da cidade. Neste mês, até o dia 19, está participando da exposição de grafittis no Parque do Ibirapuera com a instalação Água Mole, Cidade Dura, com um painel onde a crise da água está presente e um carrinho de reciclador não poderia faltar.

Catadores que circulam pela Vila

Buiú
Celular 98908-3725

Duacir
Celular 95704-2613

Fábio
Celular 98841-2088

Jorge
Celular 94327-0892

Nego
Celular 96784-7079

Fonte: Pimp My Carroça
www.facebook.com/thiagomundano
www.catarse.me/pimpmycarroca

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