Vida de mãe e promotora

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Promotora de justiça, Daniela Hashimoto, decidiu pelo Direito aos 17 anos e fala dos júris em que atuou e do trabalho atual com menores infratores. “Nessa idade, ninguém sabe direito o que quer na vida. Vi no Direito uma oportunidade para outras carreiras.” 

“Fiz estágio num escritório de advocacia de direito trabalhista. Não era o que eu queria. Depois de formada, abriu um concurso para promotor, me inscrevi e passei. Comecei a minha carreira de promotora no Fórum de Pinheiros, aqui na Vila Madalena”, diz ela.

O júri que Daniela atuou como promotora pública e teve maior divulgação por parte da mídia aconteceu em 2012, no julgamento do jovem Lindenberg Fernandes Alves, que em outubro de 2008 matou a namorada, Eloá Cristina, e feriu uma colega dela. “Meu trabalho foi dar uma resposta à sociedade e à família de Eloá. Lindenberg se achava ‘dono’ da Eloá”, conta a promotora. Quanto à pena que ele recebeu, “ficará preso por 30 anos, no máximo. Se é muito ou pouco, não sei dizer, mas o importante é que ele não ficou impune do crime que cometeu”.

Para a promotora, os crimes contra as mulheres precisam ser punidos com rigor. “Muitos homens se acham no ‘direito’ de agredir suas mulheres e companheiras. Eles precisam ser punidos pela lei. Temos a lei Maria da Penha que garante que a mulher seja protegida e o juiz pode determinar que seu companheiro ou marido não se aproxime dela ou faça nenhum contato. A nova lei do feminicídio garante que a pena para o agressor seja maior no caso dele causar a morte da companheira ou esposa. A pena é maior do que se ele tivesse matado outra pessoa”, esclarece.

Mecanismos como os telefones 180, denúncias através do www.spm.gov.br, da Secretaria de Políticas para as Mulheres e delegacias de proteção de mulheres são úteis, mas ela alerta que “as delegacias especiais para mulheres fecham nos finais de semana, quando o número de agressões é maior. Os casais estão em casa, o consumo de álcool é maior e, quando agredida, ela não tem onde recorrer. As delegacias comuns carecem de atendentes preparados para essa mulher”, lembra.

Hoje, ela trabalha na Vara de Menores Infratores, no Brás. “Meu trabalho atual é acompanhar os jovens infratores se eles cumprem as medidas socioeducativas, seja ela em regime aberto ou fechado”.

Seu trabalho de promotora a coloca próxima de jovens: “Percebo que 90% dos menores infratores que estão na Fundação Casa carecem de uma estrutura familiar. Geralmente não têm pai. A mãe de muitos deles, por necessidade, sai cedo de casa para trabalhar – e muitas vezes cuidando de filhos de outras pessoas e eles ficam sozinhos”, diz. Mas também aponta outros fatores: falta de planejamento familiar e paternidade responsável, violência doméstica e sexual.

O fator econômico também é relevante, mas “nem sempre o dinheiro é a razão desse jovem se envolver com o crime. A falta de valores éticos por parte de uma família e a falta de limites desses jovens os levam para esse caminho”. Como mãe de uma menina de cinco anos, ela sente que a falta de um apoio familiar e uma escola de qualidade poderiam ter tirado esses jovens do crime. Mas ressalta que não é um problema de classe social. “Em muitos casos, os problemas são os mesmos. Observo que muitos jovens de hoje têm uma facilidade enorme em entender de tecnologia, mas não têm paciência e não gostam de receber um não”.

Para a promotora, uma escola de qualidade seria ideal para diminuir o número de jovens infratores. “Muitos dos adolescentes que recebo são analfabetos ou analfabetos funcionais e apenas desenham o nome, infelizmente.”

Daniela cita que um dos crimes mais comuns nos dias de hoje e que levam os jovens à Fundação Casa é o chamado ‘roubo ostentação’. “São jovens que roubam carros para ir a um baile, se mostrar para seus grupos e meninas. Depois do roubo abandonam o carro em qualquer lugar, mas muitas vezes a polícia os captura antes e eles acabam na Fundação Casa”.

Cozinhar é uma das formas que Daniela encontrou para relaxar da rotina de promotora de justiça. Estar sempre presente e acompanhar o desenvolvimento da filha é outra preocupação e satisfação que ela e o marido, Jorge (dono da loja ZasTras, da Vila Madalena), não abrem mão. “Fico preocupada quando vou às festas da minha filha e vejo crianças acompanhadas pelas babás. Criar um filho dá muitas alegrias e satisfação, mas exige responsabilidade”.

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