Melhor assim

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Vejo da minha janela a Vila. Hoje definitivamente um lugar de referência na vida da cidade. Impossível não lembrar o início das coisas aqui, e eu nisso tudo. É com emoção que passeio por minha memória afetiva revisitando lugares, pessoas e acontecimentos. Tenho certeza de dizer que este é o meu pedaço no mundo. Aqui me sinto seguro. Aqui testemunho interessadíssimo o desenrolar do tempo. E como me incomodam as notícias nem tão boas que saem na imprensa, porque tudo aqui é desafio, é exercício de futuro, portanto, frágil. Claro que tem uma coisa pessoal. Me atinge. Mas não é isso que interessa.

Numa sociedade como a nossa, especialmente a paulistana, que foi preparada para sonhos superados de futuro, redobra  a vigilância sobre acontecimentos fora do script. É feio o que não é espelho, diria Caetano. E agora então, quando a situação econômica e política entrou em parafuso, o ranço do atraso se potencializa, e a vítima poderá ser esse espaço da cidade, a Vila Madalena, que exercita uma pauta libertária e criativa da juventude. Ninguém pode acreditar que se defende os excessos. Não. É possível coibir sem no entanto apagar o que foi acumulado.

Continuo na janela da minha reflexão e me surpreendo feliz com o reencontro. Como é prazeroso sentir-se em casa. Ter uma história com o lugar. Mesmo as confusões brasileiras, tão desestabilizantes, entristecedoras, serão capazes de estremecer essa relação. Isso me fortalece na caminhada até para pensar um “dane-se o mundo” que estou numa boa. Você pode dizer que estou egoísta, e eu acho uma questão de sobrevivência. Melhor assim.

José Luiz de França Penna
Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena

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