A rainha da selva

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Para falar sobre a história de Hulda Bittencourt, diretora artística do Cisne Negro Cia. de Dança, dá até para iniciar o texto com a frase comum em fábulas: era uma vez…

A cria que lhe dá maior orgulho e prestígio, por exemplo, depois das filhas Giselle e Daniele, nasceu no dia 1° de abril de 1977. O tal do destino traçou para ela desafios já dentro de casa, que encarou como um leão, dominando o espaço.
Hulda nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo, interior de São Paulo. Há quanto tempo? “Não, esquece. É claro que todo mundo, fazendo conta, sabe que passei dos 70”. É a mais velha de quatro filhos, os outros são homens. Três homens?! “Hi! Mas eu era triste (terrível). Sou de Leão com ascendente em Leão, sabe bem o que quer e briga pelas coisas até a última consequência”. Uma dessas consequências é a premiada Cisne Negro Cia. de Dança, de quem é diretora artística, e que já se apresentou em mais de 12 países. São 35 anos de atividade. “Na Alemanha, os ingressos são vendidos com um ano de antecedência”, conta. No ano passado a Cia. recebeu o Prêmio Governador do Estado para a Cultura 2012, com o espetáculo Quebra-Nozes.Desde pequena, Hulda sentia que tinha veia artística; como não sabia por onde começar, ia arriscando. Uma vez, os irmãos estavam tendo aula de sanfona e ela pegou o instrumento. “Acha a foto aí”, ordena à secretária. “É a primeira vez que vou divulgá-la”. Quando a família já morava em São Paulo, foi com a mãe até a TV Tupi, para fazer um teste de canto num programa infantil. “Cantei ‘Marambaia’, mas eu cantava mal”, ri. Tomou contato com a dança ao realizar um trabalho escolar. Era aquilo. Procurou a melhor professora da época, a russa Maria Olenewa, que profissionalizou o balé no Brasil. Como já estava com 17 anos de idade, Hulda trabalhou duro e se superou tanto que Olenewa a indicou para dar aulas. “Para tapar a boca do meu pai e mostrar para ele que era profissão”, ressalta.
Montou uma escola no fundo de sua casa. O lugar ficou apertado, alugou, então, duas salas em cima de um laboratório alemão. “Esse homem deixou eu ficar lá cinco meses sem pagar. Imagina a lábia que eu passei nele”. Certa vez, por indicação de um professor, chega um grupo de rapazes, estudantes de Educação Física na USP, para aprender a dançar. O desafio era trabalhar uma musculatura diferente e tinha mais: “Cada um deles vinha de uma modalidade diferente. O do remo tinha a musculatura do braço mais trabalhado, o do basquete pulava muito”, conta. Hulda venceu a labuta e um tabu. “Quebrei a discriminação. Eram homens com H que dançavam e ninguém tinha crise de nada. As meninas ficaram apaixonadas”. Hulda criou o espetáculo Cenas Brasileiras e aí… “Aí, explodimos”. Nasce a Cisne Negro Cia. de Dança. O repertório é diversificado e Hulda nunca quis trabalhar com coreógrafo residente. A Cia. vai estrear o espetáculo Sra. Margareth – excertos de Monger, com adaptação do coreógrafo israelense Barak Marshall. O grupo viaja pela Europa no próximo mês. A partir de maio, realiza turnê no Sesi de quase 20 cidades do interior de São Paulo com o espetáculo Don Quixote & Sancho Pança viajando pela Dança.
“Nós temos em média 500 alunos, mas os meninos são minoria. Eles só aparecem aqui quando fogem de casa… ainda”, lamenta. Sobre o Dia Internacional da Mulher, Hulda acha “importantíssimo” ter uma data comemorativa. “Sem a mulher não acontece nada”. 

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