Um novo desafio

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Criado na Bahia, José Luiz de França Penna sempre militou política e cultura.

Potiguar mas criado na Bahia, José Luiz de França Penna sempre militou política e cultura. Fez parte das primeiras encenações de ‘Hair’ e de ‘Arena contra Zumbi’. Tem parcerias musicais com Belchior e em 1970 formou a Banda Papa Poluição, antes do boom ecológico. No cinema, é o autor da trilha sonora do filme ‘Sargento Getúlio’ (1983), de Hermano Penna. Criador do Centro Cultural da Vila Madalena, é fundador e presidente nacional do Partido Verde. Vereador desde 2008, acaba de ser eleito deputado federal com 78 mil votos. Foi um dos coordenadores da campanha presidencial de Marina Silva. Nesta entrevista, Penna analisa o resultado das eleições e outros assuntos.

O resultado das eleições foi bom para o Partido Verde?
No federal, se fizéssemos cinco, repetiríamos as últimas eleições. Como fizemos seis, o resultado foi interessante. Em São Paulo, foi uma grande novidade para nós. Elegemos oito deputados. Dois deputados saíram do partido. Reelegemos os seis e elegemos mais três. Foi muito bom. Para o PV, a eleição foi muito boa.

Como é trocar a Câmara de Vereadores pela Câmara dos Deputados?
Estou ligado a um projeto político do PV. Sou fundador e desde sempre estou nele. O PV, na eleição de 2008, decidiu que os principais dirigentes do partido saíssem como candidatos. Fui eleito vereador. Agora, nós fizemos um lindo projeto com a candidatura da Marina Silva e todos nós – dirigentes do PV – participamos para ajudar na capilaridade de votos. Esse é o fato. É o projeto do partido. Mas vou citar o cantor Roberto Carlos: “a minha alegria é triste!”. Sou um militante histórico da cidade e da Vila Madalena.

Como foram esses dois anos de Câmara de Vereadores?
Eu adorei, para dizer a verdade. É uma ótima experiência e uma grande possibilidade de fazer coisas para a cidade. Por exemplo, tem coisas inacreditáveis e eu sugiro aos que ficaram e aos que vão assumir que tratem com seriedade suas intervenções no pequeno e no grande expediente. Na Câmara de São Paulo, você não fala apenas para os moradores da cidade. Você fala para o Brasil. É um negócio de doido.

O que se discute em São Paulo tem repercussão nacional?
Pois é. Tenho pena daqueles que passaram pela Câmara e se perderam em pequenas coisas, com uma visão estreita entre situação e oposição. São Paulo é um Paraguai, um Uruguai, é um país da América Central. E na economia, mais ainda. Não sei se terei vida longa, mas retornar à Câmara de São Paulo está no meu projeto político.

Quais foram seus projetos na Câmara?
Acho que a grande intervenção que se pode fazer é no sentido da economia criativa. Precisamos entender a pujança da geração de empregos na área de serviços.

Como funciona essa economia?
Ela é distributiva e gera milhares de emprego e renda. São atividades limpas. É preciso incentivar isso. Quando os vereadores faziam discursos assistencialistas em relação ao carnaval, me contrapunha. A indústria criativa ativou milhares de empregos na economia da cidade e do país e não pode ser tratado dessa maneira. Precisamos ter uma estratégia industrial.

E o designer sustentável?
Na verdade, queremos com ele transformar a cidade na Capital do Designer Sustentável. É um novo modelo de desenvolvimento, estético e funcional. As pessoas têm entendido muito bem isso. Como ativista, aprovei o Dia do Design Sustentável.

E a Síndrome de Burnout?
Apresentei o projeto de um programa de assistência médica e psicológica para professores da rede pública de São Paulo para os portadores da Síndrome de Burnout. Sempre me preocupei com o ensino e é preciso ver também o mestre. A quantidade de professores com psicoses, com dificuldades físicas geradas pelo trabalho, é enorme e o Estado não se prepara para isso.

É uma doença que afeta principalmente os professores?
É um exército de gente ‘baleada’. É uma doença típica do trabalho de professor. E não se toma uma posição e nem se cria dispositivos legais para assistir a essas pessoas. Me reuni com o secretário da saúde do município e com os professores para tratar disso. Precisamos investir mais no professor.

Esse projeto você leva para a Câmara Federal?
A síndrome não causa doença física. Ela causa um sentimento de depressão. Agora, na Câmara Federal, quero levar o problema para o país todo e tratar com o Ministério da Saúde.

E os votos no Tiririca? Como analisa esse fenômeno eleitoral?
É diferente do Enéas, que tinha um voto de classe média, de direita, neofascista, mais contundente. Uma grande massa de pessoas nas grandes cidades está excluída do processo político. Elas se vinculam ao Estado nacional através da televisão, que na melhor das hipóteses trata do consumo, quando não de religião. O Estado não chega até esse eleitor.

E o Tiririca?
Não tenho nada contra o artista. Até gosto dele. A existência da candidatura dele é uma prova – não sou só eu que tem essa sensação – que ele é um produto de marketing e serviu para eleger outras pessoas.

E como mudar esse quadro?
É perigoso termos tantos brasileiros fora da legalidade. É preciso uma grande discussão que os inclua. E eles podem, hoje, determinar a eleição de nossos mandatários.

Como foi participar da campanha presidencial da Marina Silva?
Foi um gol de placa para nós do PV. Ela chegou a 19%. No ínicio, os outros candidatos diziam que ela teria 7%.

Serra e Dilma queriam o segundo turno?
O poder e sua oposição não queriam. Era inconveniente para eles. Trabalhamos para ter o 2º turno. A população precisava discutir melhor. Ficava um a favor e outro contra.

E a atuação da Marina Silva?
A Marina topou sair com a candidatura e foi um gesto de muita grandeza dela. Saímos sozinhos, com um minuto e dez segundos de tempo de TV e poucos recursos. Fizemos tremer e levamos as eleições para o 2º turno. Eles tiveram que ouvir nosso grito de independência.

Qual a mensagem que ficou?
Acho que é uma discussão sobre o futuro do país. Fica claro que há uma vontade de algo diferente do que existe aí. E a Marina, que sempre foi ambientalista e só faltava vir para o PV e ter uma potencialidade, juntou tudo isso.

O que faltou ao Serra?
Na verdade, nós paulistas estamos muito estigmatizados no Brasil. Com e sem motivo, dependendo do lugar. Há uma fadiga da hegemonia paulista. O único caminho seria unir São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais. Mas isso não aconteceu.

O voto em lista que você apoia pode melhorar a política?
É necessário. Defendo voto em lista e acabar com votos proporcionais, com votos nominais.

Teria espaço para um Tiririca?
Ele teria de ser aprovado na convenção do partido como sendo um dos primeiros da lista. É outra lógica e não quer dizer que seja definitiva. Precisamos experimentar. Supondo que poderíamos indicar 200 candidatos, indicaríamos, primeiro, aqueles que têm condição e intenção de exercer o mandato. Mas no 101º poderia incluir os amigos do partido, por exemplo. Tem gente que dá prestígio ao partido mas não tem intenção de assumir cargos. Talvez fosse o caso dele.

E o financiamento público de campanhas?
Sou a favor. Assim não tem mais dinheiro de empresa. Cada partido deve se virar com o valor que receber. É a única forma de fiscalizar. Na eleição de 2008, tivemos 14 mil candidatos a vereador. Como se fiscaliza isso?

A reforma política sai em 2011?
É preciso levar a sério. Participei como presidente de partido de muitas reuniões. Eu espero que agora a reforma saia. E partidos como o nosso vão levar vantagem. Tem muitos partidos que não significam nada.

Vai dar para manter sua ligação com a Vila Madalena?
Quero ampliar essa ligação. Agora em Brasília terei condições de fazer mais do que já fazia quando estava na Câmara.

Por que o político está desprestigiado?
É uma crise. Tem a rasteira, que é o ‘mensalão’, o ‘dólar na cueca’. Temos uma crise de utopias. Os partidos conservadores não querem que as coisas mudem. A votação da Marina é uma prova disso. Andando pelas ruas, eu notava que o povo indicava que é com ela que ele queria seguir. Se nós tivéssemos um tempinho maior, iríamos para o segundo turno.

Ela ajudou a tornar a política mais interessante?
Claro. Desde a ditadura que há um processo massivo de desmoralização da política. Na recuperação, o pessoal tradicional diz que quando uma coisa errada acontece, desmoraliza a atividade política.

Existem novas propostas para a política?
Sim, e eu acredito nisso. Temos o sonho de ter um país melhor. Não crescemos com o descrédito da política e não estamos sozinhos. Existem outras pessoas e outros partidos.

Sua mensagem final para os nossos leitores…
Para nossa autoestima, eu diria que a Vila Madalena agora tem federal. Todo o tempo, através do meu escritório político ou no Centro Cultural da Vila Madalena.

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