Troca de segredos

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Pedro Costa

Esta é uma história de amor que ninguém se esconde ou se envenena. Pois, não se trata de Romeu e Julieta, nem este que vos escreve é o Shakespeare. É a de Alemão e Cuca . Não é uma história ambientada na Itália medieval, em Verona e sim aqui na Vila Madalena. Em comum, apenas histórias de amor que terminaram em casamento, ao seu modo, ao seu tempo.
Há muitos anos não havia casais de namorados que desconheciam o “Beco do Amor”. Hoje é apenas lembrança na memória dos vovôs e vovós da Vila, talvez também ainda alguns pais de cabelos prateados no auge daqueles anos dourados, lembrarão. Nos fins de semana caminhar até a City, era namorar até o sol baixar e até a lua começar a subir lá no “Beco do amor”. Descendo a rua Wisard até o fim, chega-se à City. O Beco ainda está lá, rodeado de casas numa ruazinha sem saída, de nome Sapará. Confusão ou bafafá só acontecia quando algum namorado era da Vila Beatriz e a namorada da Vila Madalena ou vice-versa. E quando algum morador chamava a “rádio-patrulha” para encaminhar às suas casas algum casal que avançava tanto na noite como nos afagos. Época que não havia prédios na pacata Vila Madalena, nem postes de mercúrio. Assim as estrelas povoavam mais nosso céu, nossos romances e estas estrelas estavam familiarizadas conosco, sabíamos seus nomes e suas constelações. “Se águas passadas não movem mais os moinhos, amores do passado movem lembranças”, diria Lupicínio Rodrigues, se estivesse vivo.
Não se sabe porquê, mas junho é o mês dos namorados, mais precisamente 12 de junho. E era sempre neste dia que a turma do Vadão, o Eletricista da Vila, hoje professor de dança de salão, cobrava uma cervejinha dos amigos namoradores do Beco do Amor. Caso preferiam um violão enquanto caminhavam, o Vadão providenciava com cantor e tudo. Até “serenata” para buscar a namorada em casa tinha jeito.
Neste mesmo tempo do Beco, a recém-descomprometida, Cuca, chamou à sua porta para trocar segredos, ou melhor, chamou o simpático chaveiro “Alemão” para mudar o segredo de sua porta de entrada. Era o Mário, o “Alemão”, chaveiro há quase trinta anos aqui na Vila, está lá na esquina de Wisard com a Fradique Coutinho, abrindo sorrisos, trocando segredos e Cuca no seu pé, para que não abra mais outro coração a não ser o seu.
Foi nesta troca de segredos, que o nosso galanteador chaveiro solteirão, conquistou o amor de sua Julieta. Após o segredo trocado, hoje ambos têm a mesma chave. E numa das árvores do Beco, agora já bem no alto, fora do alcance dos olhos, entre outros, há um coração com seus nomes gravados.

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