O circo invisível

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Animais utilizados por circos, sejam bichos selvagens ou domésticos (como cães e gatos amestrados), são transportados de forma inadequada, muitas vezes torturantes. Tornam-se neuróticos, passam fome, falta-lhes espaço para sua movimentação natural, têm partes do corpo atrofiadas, extirpadas. Somam-se a essas condições os maus tratos a que são submetidos no adestramento, para que se obtenha deles comportamentos artificiais. Examinando-se o quadro sob o ponto de vista da segurança humana (neste caso, visível ao público), a abolição desta prática já deveria ter acontecido.
Em outubro de 2000, o circo Beto Carrero foi obrigado a retirar de seu repertório – por força de uma liminar – o número em que o gato persa Belsik saltava de uma plataforma de 20 metros de altura caindo numa almofada nas mãos do adestrador. Mas a proibição não durou muito tempo. As entidades de defesa dos animais sustentam que em março de 2004 o gato veio a cair da altura de 20 metros, fora da almofada, e morrido em conseqüência da queda. Wladimir Spurega, coordenador do grupo de circos Beto Carrero, confirmou a queda do animal. A assessoria do parque, embora tenha admitido o acidente, diz apenas que o gato Belsik estava “em repouso”. A advogada Renata Martins entrou com representação no Ministério Público de Santa Catarina contra o salto mortal e uso de animais nos shows, em nome da Associação Nacional de Implementação dos Direitos dos Animais (Anida) e da Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos (Aserg).
Na Câmara dos Deputados, os projetos de lei que propõem a proibição de animais em circos (o IBAMA apóia a medida) agora estão todos apensados a um projeto do Senador Álvaro Dias, que pretende regulamentar a utilização de animais. Na Câmara esses projetos passaram na Comissão de Meio Ambiente, onde foi aprovado um substitutivo com parecer pela proibição. Agora é aguardado o parecer do relator na Comissão de Educação e Cultura, deputado Federal Antonio Carlos Biffi.
Para esta Comissão, a veterinária e ativista em defesa dos animais Andréa Lambert enviou e-mail em 17/12/2007 em que diz: “em novembro uma senhora teve o braço amputado depois de um ataque de leão de circo no Espírito Santo e este mês um leão fugiu da jaula em Cuiabá, mas felizmente nenhuma tragédia ocorreu, como já aconteceu em outras ocasiões”.
Em Santa Catarina, onde a empresa de Beto Carrero centraliza seus interesses, o deputado estadual Elizeu de Matos apresentou na Assembléia emenda ao PL que vedava o uso de animais em circo. A emenda libera a apresentação de animais domésticos e foi aprovada. Porém, volta para a Comissão de Constituição e Justiça onde pode ser derrubada.
Dra. Sônia T. Felipe* é quem diz: “Se seres superiores a nós em inteligência nos capturassem e nos levassem em gaiolas para seus territórios, nos usassem em brincadeiras aterrorizantes, incompreensíveis para nosso intelecto, certamente não expressaríamos em sua língua o sofrimento ao qual nos sujeitariam; mas, estarrecidos, constataríamos a existência de seres capazes da maldade, resultante do uso de sua superioridade intelectual e racional, para troçar cruelmente de nós. O modo como toleramos a crueldade e extermínio de animais não-sapiens revela, lamentavelmente, o quanto toleramos a crueldade contra adolescentes nas ruas, negros, homossexuais, mulheres, idosos, pobres e sem-teto. Para mudarmos nossa relação com esses últimos, urge que nos demos conta do que fazemos a todos os seres que julgamos inferiores a nós”.

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