O barbeiro da Vila

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Foi em 1963, quando tinha apenas 9 anos de idade, que ‘seu’ Álvaro Benedito aprendeu o ofício de cortar cabelos de homens e fazer a barba usando navalha. Naquela época, a Vila Madalena nada mais era do que montanhas e araucárias, várzeas e sítios. “Não tínhamos a possibilidade de estudar, então aprendíamos uma profissão. E comecei a fazer barba com meu pai, o Zico Barbeiro. Ele construiu a barbearia aqui neste mesmo lugar”, conta o proprietário do Salão Estrela, que desde aquela época funciona na rua Natingui.
“A Vila começou com meu avô, seu Rosendo, em 1900, quando ele veio da Espanha. Ele foi um dos pioneiros do bairro”, diz Álvaro “Barbeiro”, como é mais conhecido. As lembranças daqueles tempos de infância fazem os olhos dele brilharem: “Tinha muita brincadeira de rua, éramos livres. Aqui tinha muita fruta silvestre, caqui, banana, mamão, morango do mato… Tinha um riozinho onde pescávamos e também jogávamos muito futebol. Porém, também tinha muita coisa que a gente queria ter e não podia. Acesso ao cinema, por exemplo, e dinheiro era muito difícil de ganhar”.
O tempo foi passando, Álvaro se casou, teve três filhos e foi morar em Cotia. Mas a Vila não saiu da sua vida. “Venho trabalhar aqui todos os dias”, diz. “Fui morar lá porque queria criar os meus filhos de uma maneira diferente, com liberdade. Fui muito preso, a educação era muito rígida, apanhei muito quando era moleque. E nunca coloquei a mão nos meus filhos. Eles todos têm muito contato comigo e com a mãe, que é a mestre da casa. Minha família é muito unida e hoje já somos em onze: quatro filhos e as noras”.

Exposição

Entretando, não é somente de boas memórias que vive seu Álvaro. Ele quer trazer essas lembranças para mais perto dos moradores e visitantes da Vila Madalena, por meio de uma exposição de fotos na própria barbearia. “Tenho vontade de trazer as fotos para cá, com a colaboração de pessoas que trabalham com quadros e que tenham outras fotos para ceder. Tenho fotos de cubes de futebol que foram famosos, como o Leão do Morro, do qual fui diretor. Com essa exposição as pessoas terão noção do que foi a Vila. Um exemplo é que a região era cheia de araucárias, por isso passou a ser chamar Pinheiros. Poderia ter se chamado Araucárias. Esse conhecimento é muito importante para a Vila. A evolução do bairro está tão grande e são poucas as pessoas que se interessam por isso”, acrescenta.
Álvaro está organizando as fotos para a exposição, que será permanente, pouco a pouco, com a tranqüilidade de quem também faz da profissão um prazer – “Faço barba com navalha, cabelo sem pressa, continuo até hoje no mesmo ritmo. A Vila é artesanato, eu sou esse artesão também. Não trabalho com correria nem para ganhar dinheiro”.
Quem quiser e puder colaborar, ou mesmo patrocinar a exposição de Álvaro Barbeiro, pode procurar por ele no Salão Estrela, de segunda a sábado, no horário comercial. Vale a pena preservar a memória de um dos bairros que mais se destaca em São Paulo!

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