Homenagem à Nonato

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Kelly Monteiro

Quem mora na Vila Madalena há muito tempo ou conhece bem a história do bairro, certamente conhece o bar Sujinho, na esquina das ruas Mourato Coelho e Wisard. Se foi freqüentador deste ícone da Vila certamente conheceu Nonato de Sousa Veiga, proprietário do Sujinho, falecido no dia 5 de fevereiro.
Nonato nasceu em Acajutiba, município de Esplanada, Bahia, e veio para São Paulo quando tinha apenas 16 anos de idade. Sua intenção era trabalhar, e em depoimento deixado no site do Museu da Pessoa, ele conta que tinha a idéia de abrir um bar. “Cheguei na Estação Rodoviária ali na Luz com uma maleta na mão – vim de ônibus, não vim de pau-de-arara -, com a calça curta de saltar riacho. Sabe como é uma calça de saltar riacho? É um cara que não tem roupa, e ele vai lavando a roupa e ela vai encurtando e fica no meio da canela. Então fui eu…”.
O primeiro bairro em que Nonato morou foi a Vila Mariana. Trabalhava em uma lanchonete durante o dia e, à noite e nos dias de folga, trabalhava como engraxate. Com o que ganhava como engraxate ele sobrevivia, o salário da lanchonete e as “caixinhas” guardava para enviar para sua mãe.
Sua primeira conquista foi um terreno: “Como todo baiano, é a primeira coisa que ele faz”. A idéia era construir uma casa, que foi deixada de lado para dar continuidade ao sonho de ter um bar. E o primeiro foi na Vila Ema. Depois de uns dois anos, ele trocou por um imóvel na rua Fidalga e assim chegou à Vila Madalena. Mas não parou por aí. O imóvel da Fidalga foi trocado por um armazém, que depois foi vendido, até Nonato chegar ao Sujinho, ou melhor, ao Snack Bar. Ele relata: “Na Fradique Coutinho tinha um outro bar que se chamava Lanchão, lá embaixo, antes de chegar na Teodoro Sampaio. Então o pessoal chamava ‘lanchão’ lá, e lanchinho” o Snack. Também tinha uma casa, na esquina da Aspicuelta com a Fradique, que se chamava Morango. Isso ninguém sabe. Essas pessoas não conhecedoras das histórias deveriam conhecer melhor. E eu comprei o Snack por quatrocentos reais… Dá pra comprar o quê? Até a um tempo eu sabia. Foi duro pra pagar isso aí. O Sujinho eu não vendo… Se aparecer alguém… Eu não sei quanto vale, é inestimável. Eu tenho amor à Vila, ao Sujinho e às pessoas”.
Para Renato Jabor, filho de Nonato e atual administrador do bar, “o Sujinho sempre foi ponto de encontro de todos os grupos, os intelectuais, pseudo-intelectuais, hippies, militantes, punks, senhores e senhoras, artistas; quanto a isso um lugar muito generoso e acolhedor a quem quer que seja, rotulados ou não”. Ele lembra que o Sujinho, desde a década de 1980, sempre foi ponto de encontro cultural e político, pois abrigou reuniões políticas; o pessoal da esquerda e da direita se encontrava lá, claro que em horários diferentes. “Nomes importantes da política nacional, freqüentaram o adoravam Sujinho, que nem sempre foi Sujinho. Esse nome pegou na época que o x-salada era a sensação do momento na cidade, as pessoas sentavam, comiam, iam embora sem jogar fora aquele papel que embrulha o sanduíche. Sem tempo de limpar, ficavam espalhados pelo chão. Não era sujo! Embora Sujinho…”.
Nos últimos anos, o Sujinho foi reformado e mudou de cara. “Acreditava-se na necessidade de acompanhar a estética de outros bares que se formavam em volta. Mas a essência do passado se preservou e muitos daqueles antigos amigos ainda permanecem. Nonato foi um grande amigo e colaborador no desenvolvimento do bairro, ajudando inclusive a criar a Feira da Vila Madalena”, finaliza Renato.

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