Dar, doar, doer

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Conheço muitas histórias de doação/adoção de animais. Algumas eu vivenciei e sei o quanto é delicada e complexa a decisão de adotar, doar… ou fazer doer. Quando faz doer, todos os envolvidos sofrem, principalmente o bicho.
Dar um animal de presente-surpresa a alguém é uma péssima idéia. A opção de ter um animal – e qual animal – deve ser um ato de vontade intransferível. Aí vai uma pequena história de uma protetora, da qual já vi reprises. Ela pôs anúncio num jornal para doar três gatinhos que achara na rua. Entre os interessados que ligaram, um senhor, que pretendia dar um deles de presente para as duas filhas. Quando a protetora retornou o telefonema, quem atendeu foi a esposa do possível adotante. A esposa se mostrou surpresa com a intenção do marido e declarou que não gostava muito de gatos, mas bem que gostaria de ter em casa um pequeno cão. Nem é preciso dizer que a doadora convenceu o pai das meninas a trocar a adoção de um dos gatos por um cão de pequeno porte, já que a família residia em apartamento.
Esta é a primeira lição na hora de adotar um animal: saber se todos da família estão de acordo com a escolha. Se esta for errada, trará sérios problemas de convivência familiar, principalmente se a pessoa que vai realmente cuidar e lidar com o bichinho, não gosta de sua espécie. A experiência tem nos demonstrado – fartamente – que um erro deste tipo leva a um crime: o abandono do animal numa esquina qualquer. Ou em casos menos graves, porém lamentáveis, à negligência do adotante quando “passa adiante” o bicho para pessoas despreparadas, insensíveis. Coitado do animal neste círculo vicioso!
Nunca aja por impulso na hora da adoção. A sentença “tudo que um bichinho precisa é de comida e carinho” é um ledo engano! Ter um animal significa dar e receber carinho, amor. Porém, como uma criança, exige cuidados constantes e dá trabalho. Um animal tem direitos também (sob o ponto de vista legal, inclusive) a ter alimentação e abrigo adequados à sua espécie, raça e energia despendida; ser vacinado, vermifugado, e tomar os medicamentos corretos quando adoece.
Quantas vezes não me perguntaram o que dar a um bicho doente! Sou jornalista e observadora do Movimento da Proteção Animal, protejo animais na medida do possível, porém não sou veterinária. Seria uma irresponsabilidade de minha parte receitar medicamentos para um bicho que sequer conheço ou vi o estado em que se encontra. Certa vez, uma senhora me contou que havia dado bebida alcoólica ao seu cão “para acabar com os vermes dele”. Evidentemente ela não conseguiu o que queria e ainda por cima intoxicou seu cachorro. Um problema simples pode ser resolvido com simplicidade: muitas vezes uma diarréia é resultado da mudança de ração, da falta de higiene, de água ao sol em prato sujo… Mas ninguém, a não ser um veterinário, pode saber a causa da tosse de um animal, por exemplo; ou a cuidar de outro que tenha sofrido um atropelamento ou uma lesão séria.
A questão da propriedade responsável começa com uma pergunta simples que se faz à própria consciência, diante de um animal que se deseja ter: tenho condições de me responsabilizar emocional e financeiramente por esta criatura, desde este momento até o fim de sua vida natural? Se a resposta for um honesto sim, você está preparado para ter um grande amigo pro resto da vida. Se não, melhor não adotar um ser indefeso que sofrerá pelo tempo que tiver de existência, pagando por um erro que não foi ele que cometeu. Pode ser uma vida mais curta que a média dos humanos. Mas para o bicho, é a única que lhe é dada viver. E à vida, qualquer que seja, devemos respeito.

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