Da rua para a galeria

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Kátia Gomes

Quem passa a pé ou de carro pela rua Fradique Coutinho esquina com a rua Purpurina se surpreende com uma cabeça gigante e amarela a que se transformou a Galeria Forte Vilaça. A mudança na paisagem urbana se deve à mostra “O peixe que comia estrelas cadentes”, dos artistas e grafiteiros Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como Osgemeos, que pela primeira vez expõem individualmente no Brasil após sete anos percorrendo o circuito norte-americano e europeu de arte contemporânea.
Mais surpreendente é entrar na galeria. A exposição é composta de uma pintura mural também no espaço interno, que levou três semanas para ficar pronta, uma grande instalação e uma série inédita de pinturas-objeto. As obras, ao total 12, têm em comum referências à cultura popular brasileira, ao contexto urbano e ao universo onírico criado por eles.
No andar térreo, a pintura que recobre as paredes do chão ao teto segue a tradição do muralismo latino-americano, explorando a narratividade, a figuração arquetípica e a paisagem imaginária. Já a instalação de escala monumental e que dá nome à mostra, contém uma escultura mecânica, som e elementos interativos.
Os personagens de rosto amarelo vivo, marca registrada da dupla que começou grafitando muros e outras áreas urbanas, parecem fazer parte de uma multidão anônima nas intervenções e pinturas dos artistas. Sob um olhar mais atento, são personagens minuciosamente diferenciados por meio de roupas e adereços que levam cores vivas e brilhos de lantejoulas, vidros e espelhos.
Osgemeos vivem no bairro do Cambuci desde que desenhavam, em horário de expediente, em uma agência bancária onde eram contínuos. Eles explicam que cada detalhe conta um pouco das próprias vivências nas ruas da cidade e em seu “mundo paralelo” e também da história da família. O irmão Arnaldo Pandolfo, inclusive, colaborou na construção da instalação.
A cabeça amarela pintada na fachada da galeria sugere que o visitante percorra o universo fantástico que habita a mente dos artistas. Segundo eles, entre as pinturas, “O banho do pavão” é a que melhor exprime esse mundo onírico e marcado por hibridações culturais: urbano, regional, pintura e montagem convivem na obra. Vale a pena conferir!

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