Bar ou mercearia?

0
1001

“A gente morava no Itaim Paulista e uma noite o meu pai chegou chateado em casa porque ele queria mudar de bairro e confiou ao seu irmão a compra de um terreno na Zona Oeste. Depois do negócio feito ele foi lá ver e se decepcionou. Era um charco, um brejo ao lado de um colégio e um campo de futebol com uma meia dúzia de casas em volta.
Era a Rua Rodésia, na Vila Madalena, e ele veio de lá arrasado. Meu tio ainda tentou consolar, dizendo que lá era um lugar de futuro, mas ele não se conformava. O tempo foi passando, conversa vai, conversa vem, e eles acabaram construindo o que viria a ser o Bar e Mercearia São Pedro.
No início vendiam sacos de arroz, feijão, caixas de sabão em pedra, produtos alimentícios. Ele inclusive relutou muito com a idéia de abrir um bar. Imagina…
O bêbado que tomava cachaça com o cachorro:
Uma figura inesquecível era o Lari-larái que era um grande amigo do meu pai. Bêbado inveterado, ele acordava bebendo cachaça. Duas, três horas da tarde ele já estava caindo.
Quem tomava conta do Lari-larái – e bebia junto com ele – era o Pombinho, seu cachorro. Foi um dos únicos cachorros que eu conheci até hoje que bebia pinga junto com o dono.
Uma vez meu pai disse pra mim: ‘Filho, você está trabalhando num bar. Você precisa saber o que é que a bebida faz com uma pessoa, então preste atenção’. Daí meu pai abriu as portas e veio o Lari-larái, que sempre bebia Tatuzinho.
Meu pai abriu uma garrafa vazia de Tatuzinho, botou água, serviu para o cachorro, que lambeu e fez uma cara feia. Mas o Lari-larái virou, tomou tudo e ainda pediu mais uma!
Atendendo ao pedido do amigo, meu pai pegou a mesma garrafa, botou mais água, e ele ficou completamente bêbado. Eu via o homem tropeçar e sabia que ele tinha bebido água!”

A história do Sr. Pedro

Quem contou para o Museu da Pessoa um pouco da história do Sr. Pedro Benuthe, figura tarimbada da Vila Madalena, foi um de seus filhos, Munir, comerciante e terapeuta corporal.
É impossível pensar na história da Vila Madalena, sem falar do Sr. Pedro, responsável pela criação de um dos estabelecimentos mais tradicionais do bairro, o Bar e Mercearia São Pedro.
O fundador “do Mercearia”, expressão que apesar do erro de gênero revela o quanto seus freqüentadores já incorporaram que se trata de um bar, um ponto de encontro, viveu em São Paulo desde seu nascimento, em 1917, até sua morte, em 1996. Filho de imigrantes sírios, sempre se dedicou ao comércio. Na década de 60, comprou o terreno onde construiu mais tarde o Bar e Mercearia São Pedro.
Tocou o negócio com a ajuda de seus filhos Pedro, Mirko, Marcos e Munir. Quando o estabelecimento foi inaugurado, tinha um pouco de tudo para atender a clientela, formada por peões de obra e estudantes de um colégio próximo. Cândida, creolina, vaso sanitário, pregos, parafusos, pipas… até sorvete próprio a casa tinha.
No início da década de 70, quando Sr. Pedro incorporou o bar vizinho à mercearia, é que de fato começava a história de um dos mais badalados pontos da Vila Madalena. Além da venda de bebidas alcoólicas, outros serviços foram sendo disponibilizados aos clientes que lá encontram desde almoço e jantar, até mercearia, livraria, produtos de limpeza e locadora de vídeo.

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA