As histórias de K.

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Enfim, as férias chegaram e para aproveitar bem este tempo de descanso nada melhor do que ir ao teatro, um programa divertido e cultural. Que tal assistir ao espetáculo “Anônimos”, em cartaz no Viga Espaço Cênico?
“Anônimos”, segundo a diretora Beth Lopes, trata daquelas pessoas sem pátria, sem nação, sem nome, sem identidade. Pessoas em trânsito, entre territórios, eternos refugiados em sua própria terra, sempre em guerra, como os palestinos, curdos, timorenses…
Um vulto parado na esquina espreita a escuridão, porteiros e ascensoristas recebem bilhetes misteriosos, mulheres escondem-se atrás da fumaça dos cigarros, assassinos fogem por cidades chuvosas. O detetive, o viajante e o estrangeiro são personagens de nosso tempo. Estranhos em seus próprios corpos, essas figuras correspondem a modos de constituição da subjetividade e do imaginário da cultura contemporânea. É a partir da pesquisa desses seres ficcionais, já desenhados em filmes noir, histórias em quadrinhos e literatura best seller, que a Cia. de Teatro em Quadrinhos constrói este novo espetáculo.
K., sujeito comum e leitor assíduo de histórias de mistério, recebe onze mensagens em sua secretária eletrônica. Todas as mensagens perguntam por um detetive de mesmo nome que ele. K. aproveita essa oportunidade e decide investigar quem é o detetive K. O espaço desse jogo de identidades que se misturam e se confundem é um hotel sob ameaças terroristas. Ao interrogar inusitados hóspedes – como jóqueis israelenses, mergulhadores curdos, femme-fatales e também ascensoristas, porteiros e camareiras -, K. inicia uma viagem circular em busca de seu próprio passado. “Utilizamos as figuras do cinema noir – cigarrilhas, fumaça, detetives de capa e chapéu, atmosfera de mistério -, como um invólucro estético para falar do homem contemporâneo: o detetive está sempre em busca de uma identidade que não é fixa, e sim múltipla, formada de alteridades, sempre em busca de respostas; o viajante, sempre em trânsito, sem casa, expatriado; o estrangeiro sempre deslocado, à margem, fragmentado, sem passado”, diz Beth.
A história K. surge das reminiscências, delírios ou narrativas dos personagens que ele encontra nesse hotel decadente. Tudo isso cercado por um universo cheio de fumaças e intrigas, mergulhado na obscuridade.Um hotel bombardeado é uma metáfora coerente com o nosso tempo: ao mesmo tempo refém e responsável pelo terror. É uma reflexão sobre qual é o “lugar” desses personagens e qual o lugar de cada um de nós. No espetáculo, ainda há espaço para o humor, como o telefone vermelho, desses antigos, de disco, que surpreende ao “surgir” em cena como se fosse um celular, ou ainda através dos comentário das “garotas” na piscina do hotel.
Mesmo com “Anônimos” em cartaz, a Cia. de Teatro em Quadrinhos já está trabalhando em um novo projeto. Ela estréia outro espetáculo, em 22 de agosto, no Sesi Vila Leopoldina, chamado “A-tentados”, do autor inglês, Martin Crimp. Com a mesma diretora, mas outro elenco, provavelmente um novo espetáculo, chamado “Como me tornei estúpido”, adaptação do romance do francês Martin Page, estréie no Viga, em setembro.
“Anônimos” traz Aura Cunha, Eduardo Mossri, Laís Marques, Leonardo Moreira e Maria Helena Chira no elenco. A temporada vai até 19 de agosto. Sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h.

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