Artista, professor e personagem

0
1015

Israel Kislansky é natural de Salvador, Bahia, e radicado em São Paulo desde 1983. Escultor, formou-se pela Faculdade Santa Marcelina, onde foi aluno de José Antônio Van Acker e Iole Di Natali. Iniciou a carreira trabalhando como pintor e passou a se dedicar à escultura em 1990, realizando, desde então, um grande número de esculturas especiais para prêmios e espaços públicos, além de diversas exposições individuais. Seis anos depois inaugurou o Kislansky Atelier de Escultura, onde acontecem periodicamente oficinas e palestras sobre arte figurativa. Em pouco tempo, o espaço tomou corpo de um pequeno centro de cultura capaz de oferecer a estudantes e profissionais, de dentro e fora da capital paulista, uma estrutura especializada para o desenvolvimento de projetos escultóricos.
Essa trajetória fez com que o artista se tornasse tema do livro “Kislansky, o Eterno e o Moderno”, do jornalista Enio Squeff, lançando em junho pela editora San Floro. Para conhecer um pouco mais deste escultor, confira a entrevista.

Quando criança você desenhava a televisão com os programas dentro. Naquele momento já tinha consciência de que queria fazer arte?
Acredito que sim. Se existe algo de semelhante naquilo com o que faço hoje é a certa hesitação que recordo e que posso reconhecer mesmo quando começo algum trabalho. Não deveria ter mais de cinco anos, era muito criança, ainda bem que guardo essa lembrança comigo.

A transição da pintura para a escultura foi um processo natural ou sentiu maior identificação? Há algum artista ou mestre em que se espelhou?
Experimentei um pouco de tudo na faculdade. Depois, ao lado de José Antônio Van Acker, meu mestre, tive contato mais profundo com a pintura e depois com a escultura. Na realidade sempre tive as duas referências muito presentes, além do desenho e gravura, porém a escultura me solicitou profissionalmente de forma mais constante, além de proporcionar um contato maior com o modelo, que é para mim um grande prazer. De fato, para mim o Van Acker sempre foi a referência maior e em muitos aspectos continua sendo. Depois dele conheci alguns artistas importantes para mim, e um deles é sem dúvida, o Enio Squeff, que além de jornalista, é na minha opinião, um dos maiores pintores da atualidade. Diga-se de passagem, que apesar de gaúcho, pode-se dizer que sua obra é 100% Vila Madalena, ou seja, foi criada em ateliês e ruas do bairro.

E como surgiu o livro “Kislansky, o Eterno e o Moderno”? Houve participação na obra ou apenas foi fonte de inspiração e homenagem do jornalista?
O livro surgiu de uma iniciativa da Baldacci Laboratórios Farmacêuticos. Eles conheceram meu trabalho e me convidaram para realizarmos este livro. Daí nasceu a equipe formada pelo Enio Squeff, o fotógrafo Edu Simões e a artista gráfica Vera Rosenthal. Todos coordenados pelo editor Wagner Carelli. Neste livro todos trabalharam com bastante liberdade. O Enio podia falar o que bem entendesse que achavamos espaço para seu texto que é, em última análise, um texto sobre arte. Usa meu trabalho como ponto de partida para falar de questões importantes para a arte hoje. Foi um privilégio ter esse texto dentro de um livro sobre meu trabalho e não apenas pela sua qualidade mas pela amizade que em verdade nos liga. Outro ponto alto do livro, sem dúvida, são as fotos do Edu. Ele esteve em meu ateliê, na fundição, e soube retratar com intimidade o que tem sido meu dia a dia.

Tem preferência por escultura em bronze e tamanhos maiores ou também trabalha com outros materiais e proporções?
De fato sou modelador, por isso uso pouco a pedra e a madeira. Não tive uma formação nessas técnicas. A partir da modelagem tenho fundido em bronze. Gosto em certa medida, pois temos muitos problemas com a fundição artística no Brasil. No próprio livro há um capítulo interno falando sobre isso: tamanhos. Faço-os de todos os tipos… As pessoas conhecem e se impressionam muito com as maiores, mas há vários momentos em que meu trabalho é dedicado para peças bem pequenas.

Você é considerado um referencial da obra figurativa e um mestre na arte de modelagem do corpo humano.
Acho que sou apenas uma das referências. A arte figurativa engloba um leque bem amplo de possibilidades que vai dar em abordagens muitas vezes completamente opostas. Essa é a riqueza da arte figurativa. Pouca gente trabalha a representação ligada a um “um certo realismo” e isso, às vezes, se confunde com a própria questão da arte figurativa. Esta é um universo bem mais amplo.

Em seu ateliê quais são os cursos ministrados e para quem se destinam? Também é um espaço para mostras e discussões?
Temos oficinas de modelagem do corpo humano em argila, pedra, moldes para escultores, xilogravura, aquarela, pintura, desenho e máscaras. No ateliê ensinam outros artistas. O Newton Santana, além de modelagem ensina pedra. O Luis Alberto Genaro: xilogravura, aquarela e pintura. O José Toro Moreno: máscaras. Eventualmente realizamos mostras e debates, além de publicação de um jornal. As oficinas são freqüentadas por todo tipo de pessoas, estudantes, profissionais de outras áreas e também de idades muito diversas. Muita gente vem em busca de uma espécie de resgate, são pessoas que em algum momento abandonaram uma vocação artística e depois procuram reencontrar espaço para isso nas suas vidas.

Curiosidade: Por que um artista bastante requisitado opta por lecionar? É uma outra forma de fazer arte e difundir seus conceitos?
Dar aulas é antes de tudo uma troca. Aprende-se muito ensinando e se recebe mais ainda ao participar do processo de crescimento dos alunos. Além do mais é uma forma bem honesta de se ganhar o pão, devido ao fato das aulas serem constantes e nos dêem uma certa segurança, pois nem sempre se vende o suficiente, numa profissão onde nunca se sabe o dia de amanhã. Outro aspecto muito gratificante é que tenho levado a oficina de modelagem do corpo humano a vários estados do Brasil, onde tenho grupos regulares, experimentando um processo muito rico de aprendizado. Em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e Florianópolis, capitais onde tenho trabalhado este ano, conheci pessoas maravilhosas e grandes talentos.

O artista ainda tem dificuldade em ser inserido no mercado e viver do que se produz?
É uma dificuldade geral, e não só do artista. acho que o artista neste sentido também é um pouco estigmatizado. Toda profissão tem suas dificuldades e por vezes maiores que as dos artistas. Ser médico, hoje em dia, é um grande desafio. O artista, como os outros, pode caminhar profissionalmente em vários sentidos. O músico pode ir apenas tocar, mas pode, se tem competência para isso, arranjar, reger, ensinar, entre outras coisas mais. O artista plástico também possui uma gama muito extensa de possibilidades. A ilustração para revistas e jornais, encomendas de diversos tipos, o ensino, a própria obra, e assim vai. Acho que como toda área é preciso estar preparado, estudar, e às vezes também possuir um talento excepcional. Quando isso acontece sempre aparece um caminho. O meu caso foi e é uma construção de muito trabalho, através de muito esforço.

Há alguma exposição prevista para os próximos meses?
Tenho convites da Caixa Econômica para expor em Brasília e Salvador, mas ainda não houve confirmação de datas.

O livro já pode ser encontrado nas livrarias?
Sim, por enquanto ele está na Livraria da Vila e na Livraria Cultura. mas em breve estará espalhado pela cidade.

Cursos de férias

O corpo. Técnica de modelagem em argila, modelagem da figura com auxílio de armação, proporções, leitura do modelo vivo, equilíbrio e movimento: estar, caminhar e agir. Dias 21, 22 e 23 de julho. Orientação: Israel Kislansky

A cabeça. A construção da cabeça em argila, as idades: da criança à velhice. Os gêneros: masculino, feminino. O retrato ou a identidade. Dias 28, 29 e 30 de julho. Orientação:Israel Kislansky.

Moldes. Moldes de gesso e silicone, cópias em resina, gesso, cimento e barbotina, cópias em cera para fundição em bronze. Dias 22, 24, 26, 28 e 29 de julho. Orientação: Nerivaldo Ramos de Sousa.

Máscaras. Modelagem em argila, a matriz da máscara, confecção do molde em gesso e da máscara em fibra de papel, acabamento e pintura, aerografia. Dias : 21, 24, 26, 28 e 29 de julho. Orientação: José Toro Moreno

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA