A gente explica

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“Você precisa dizer alguma coisa!”. Minha voz interior ecoando a voz de meus companheiros de trabalho, durante toda a semana.
A excitação provocada começou a reprisar fragmentos da memória que nós mesmos esquecemos. Lá estava eu, no primeiro dia de agosto, na inauguração de um Centro Cultural na unidade Sesi da Vila Leopoldina, ouvindo a saudação de um diretor da entidade que destacava finalmente a preocupação dos industriais com a cultura, além dos indicadores que monitoram a saúde da economia do País.
E lá veio um fragmento da memória, lembrando que o Guia da Vila havia sido criado dentro do Centro Cultural, na Vila Madalena, dez anos atrás. Um bairro que já tinha seu Centro Cultural, responsável por uma feira anual que coloca nas ruas, este mês, sua 30ª edição. Que bairro é este!
O mesmo bairro que, outra recordação revivida da memória, me remete ao Bar da Terra, onde gente se reunia para beber e conversar. Talvez mais conversar do que beber. Uma gente que logo me dei conta de que, se os quisesse como amigos, teria que começar a ler muito. Vindo do interior, necessitado de amizades, desenvolvi um gosto incomum pela leitura…
Que gente era esta que, quando falava em montar um negócio, traçava um projeto de vida, uma razão para viver. Gente como Penna e Pedro Costa, tão unidos e tão separados quanto as edições do Guia da Vila metaforicamente sugerem.
Inevitável a lembrança da coluna semanal de Contardo Calligaris, nesta primeira semana de agosto, na Folha de S. Paulo, concluindo que quando pensamos nas pequenas estórias das pessoas, incluindo as nossas, nos esquecemos que elas são o verdadeiro e único tecido da história.
Se me fosse solicitado apontar uma única razão para o sucesso do Guia da Vila, eu não hesitaria em afirmar que decidimos contar estórias de gente num bairro em que essa gente tinha estórias para contar. Gente de uma “espécie em extinção” como sempre lembra “meu terapeuta de balcão”, o filósofo Zé Eduardo, nas raras, mas prazeirosas, ocasiões em que temos oportunidade de conversar.
O que faz da Vila um lugar único na geografia da cidade é exatamente o tipo de gente que aqui morou, que aqui continua vivendo e resistindo ao avanço insano da lógica do lucro financeiro, da gente que aqui circula atraída pela procura de seus semelhantes.
É das muitas estórias desta gente que a Vila Madalena constrói sua própria história paralela à da cidade.
E é destas estórias de gente que o Guia da Vila faz sua matéria-prima.
Esta é a explicação da nossa permanência, da nossa capa da edição de aniversário, do conteúdo desta edição e de boa parte de todas as outras. Um trabalho do qual nos orgulhamos e de que ainda não nos cansamos. (UO)

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