Pimenta nos olhos…

0
1327

Pessoas empreendedoras às vezes alcançam o sucesso das maneiras mais inesperadas. Foi assim com Caito Maia, que podemos chamar de um cara de sorte! O descontraído proprietário da Chilli Beans, conhecida marca de óculos escuros que tem como proposta vender estilo – do mais arrojado ao mais conservador -, é prova de que acreditar em um projeto e ter prazer no que se faz é realmente o segredo de quem quer progredir.
Caito começou meio por acaso, como representante de uma distribuidora de óculos aqui no Brasil. A habilidade para vender, qualidade que ele mesmo faz questão de destacar, levaram-no ao Mercado Mundo Mix, em princípio dividindo um estande com uma amiga. Isso em 1996. Depois da criação da “apimentada” marca, uma das primeiras a chegar na Galeria Ouro Fino, a Chilli Beans ganhou São Paulo e hoje conta com cerca de 80 pontos de venda espalhados pelo País, de Manaus a Porto Alegre.
Antenado ao que há de novo no mundo da moda e do design, Caito, auxiliado por Vanessa Rincon e Mário Ponci, desenvolve a coleção da grife lançando novos modelos a cada semana. Segundo ele, a idéia é disponibilizar óculos para as mais diferentes atividades e humores, nota-se pelo visual futurista das lojas e quiosques além do atendimento diferenciado: o esquema self service deixa os clientes bem à vontade para experimentar os óculos e escolher o que melhor combina com seu estilo.
No escritório localizado na Vila Madalena, bairro que escolheu também para morar porque “tem cara de interior”, Caito revelou que sua preocupação não é apenas vender óculos, mas criar um conceito inovador quanto ao uso de um acessório que deixou de ser apenas um protetor para os olhos para se tornar um adereço poderoso. Isso se reflete na proposta da Chilli Beans de criar pontos de venda em casas noturnas, bares e festas, além do apoio a projetos culturais como a peça teatral “R-Evolução Urbana: A lenda do Rock”, em cartaz no Teatro Gazeta. Confira as histórias de Caito Maia.

Do Mercado Mundo Mix para todo o Brasil. Como você vê essa evolução da Chilli Beans?

A proposta da Chili Bens é segmentar os óculos escuros, ou seja, disponibilizar tipos de óculos para diferentes atividades e humores. Depois do começo no Mercado Mundo Mix, com vendas que foram uma loucura, veio a pimentinha e começou a rolar no mercado. Só que eu fiquei durante uns três anos naquela coisa de crescer pro lado, sabe? Muita dificuldade, sem dinheiro pra nada… Ainda nesse caminho abri meia loja junto com a marca Mulher do Padre na Galeria Ouro Fino. Praticamente ajudei a fazer a Galeria Ouro Fino porque quando fui pra lá não tinha nenhuma loja e eu tinha credibilidade com os meus amigos. Muita gente ia ao estande no Mercado Mundo Mix e dizia que queria poder comprar os óculos em outro lugar. Fizemos a loja na Galeria, era uma coisa bem amadora, mas as coisas começaram a acontecer, bem devagar. Hoje, há mais de 90 marcas na Galeria Ouro Fino. Na minha opinião, o Mercado Mundo Mix foi um dos maiores fenômenos do varejo que vi na minha vida. Foi logo que mudou a moeda para o Real. Era uma loucura! Pessoas de todas as classes, todo mundo estsva aberto a consumir coisas totalmente diferentes. O contato com as pessoas é sensacional, mas o paulista é mais preconceituoso, ele não se mistura. O carioca, pelo fato de ter a praia, todo mundo põe uma sunga e todo mundo é igual, se mistura mais. E o Mercado Mundo Mix decaiu aqui em São Paulo porque começou a se popularizar.

Você é paulista?

Sou paulista. E para o carioca o Mercado durou mais tempo. Enfim, em 1999 eu consegui ter meia loja na Galeria, sem ar condicionado, onde eu era o goleiro, o gandula, o técnico, fechava a loja… Muito tosco! Tinha até que pedir para as pessoas fazerem fila fora da loja. Tenho muita facilidade para vender e estou atrás dessa mesa aqui como executivo, mas não sou executivo. Gosto de estar em contato com as pessoas! E aí as coisas começaram a andar. Foi quando abriu o Shopping Villa Lobos, em Pinheiros. De uma certa maneira o shopping me deu uma oportunidade, só que eu não tinha dinheiro para abrir uma loja. Sugeri fazer um quiosque. Falei para o arquiteto que queria um quiosque onde a pessoa pudesse ficar à vontade para entrar, pegar os óculos… Seria um lugar para que elas tocassem no produto, se divertissem. Inaugurei o quiosque e foi sucesso total! Se você está numa cena underground tem um alcance. A minha preocupação era sair da Galeria Ouro Fino, onde o meu foco eram pessoas de 15 a 35 anos. Tive uma surpresa porque o meu produto passou a ser consumido por todo mundo, de oito a 80 anos.

E numa região de classe média alta…

É! Parava uma família e o adolescente comprava óculos meio surfista, o pai comprava óculos básico e a mãe escolhia outro diferente, maior, coloridos que estavam na moda. Quer dizer, estava preparado para falar com um tipo de público e de repente tive que me relacionar com todo mundo. Comecei a ver pessoas de todas as classes usando a marca; era pimenta para todos os lados e sem que isso incomodasse uns aos outros.

A Chilli Beans lança cerca de oito modelos por semana. Dá tempo de desenvolver e as pessoas vão em busca dessas novidades?

Na verdade, são de cinco a sete, com média de seis. Eu não quero que ninguém tenha óculos iguais. Quero gerar exclusividade para as pessoas. Na segunda-feira, quando chega a nova coleção, também há circulação na loja, as pessoas querem ver as modelagens novas. A idéia de lançar seis óculos por semana é não ver os mesmos óculos no rosto das pessoas. Você pode ver pimenta, mas não os mesmos óculos. E outra: nós temos a proposta de vender óculos como um acessório de moda, como uma situação de uso. A pessoa vai ter óculos para praticar esporte, para ir para o trabalho, para o bar, para ir numa festa… Situações de uso. Por exemplo, estamos lançando um case com quatro óculos. Mulheres adoram cases, bolsinhas, não é? Num fim de semana ela vai à praia, depois vai para a balada; no dia seguinte acorda e vai para uma reunião. Não vendemos óculos escuros, vendemos Chilli Beans. A idéia é fazer girar o produto dentro da loja, gerar exclusividade também e fazer as pessoas entenderem que a Chilli Beans vende óculos diferentes.

“Para todas as espécies” é o slogan da nova campanha da grife, feita com retratos de olhos de gato, cobra, sapo, iguana, tigre, papagaio e cachorro, onde os óculos não aparecem. O que você pretende mostrar com essa ousadia?

Essa nova campanha está mais do que focada na história do conceito da marca. O fato de não ter óculos escuros, apenas olhos de bichos vai fazer com que cada pessoa se identifique com o olhar de um animal diferente. Desta forma vamos mostrar que, independente do estilo de cada um, a Chilli Beans sempre terá um produto que se encaixa no seu perfil, ou melhor, para o seu olhar. Tem coisas que acontecem que a gente não sabe explicar de onde vem. Estava em uma feira em Milão, a maior feira do mundo de óculos escuros, quando vi um painel monstruoso com o olho de um bicho. Ou seja, estamos no caminho, não é?

O que também diferencia a grife são os pontos de venda, que não têm vitrines e são bem abertos. Este conceito acabou sendo conseqüência do Mundo Mix?

Na minha opinião, uma porta mínima fechada inibe a entrada do cliente. Fisicamente falando, a pessoa precisa passar por uma portinha para entrar e depois que entra dá de cara com uma vendedora. Na Chilli Beans os óculos estão a mão, o vendedor se prontifica a ajudar, mas te deixa à vontade. Também lançamos o espelho digital, uma tecnologia importada da Rússia. Trata-se de uma tela plana com câmeras adaptadas que filmam o cliente e exibem a imagem congelada do rosto com os óculos, em ângulos diferentes. As pessoas têm um problema muito sério para se ver com os óculos sem os óculos e este é um instrumento de venda muito legal. Hoje em dia, o conceito de vender é complicado. Nem todo mundo entra em uma loja para comprar, muitos entram para se divertir, para sentir um cheiro diferente, para mudar uma situação. A pessoa vai comprar também, mas é um conceito meio antigo, sabe?

E esse novo conceito se encaixa bem na proposta da Chilli Beans de apoiar projetos culturais…

Exatamente. Eu não sou um materialista radical. Pelo contrário, dinheiro, para mim, vem em segundo plano. Eu fui músico durante 14 anos e não é porque um monte de gente fechou as portas para mim que irei fechar as portas para as pessoas. E dentro das minhas possibilidades, no que eu puder ajudar, há muitos artistas bons no Brasil, então vou ajudar. Não é só vender óculos para ganhar dinheiro. A gente tem que fazer nossa função social, já que muitos não fazem. Patrocinamos Dj’s, peças de teatro… Tentamos ajudar o máximo no que podemos, sempre dentro das nossas proporções.

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA