Deixa falar

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Adoro pensar que é um direito de todos posicionar-se pessoalmente sobre qualquer coisa. Aprendi com Mário Cravo, grande escultor baiano, numa tarde memorável da minha juventude, que cada indivíduo tem a sua visão particular.E que isso longe de ser um problema era de fato uma riqueza. “Se eu falo bola, cada um de vocês certamente terão construído alguma imagem para si”. Dizia ele professoralmente. E, de fato, no pequeno grupo que o assistia com tanto interesse, pensamos em pelada, em bexiga, e até houve um querendo ser sofisticado que lembrou do planeta Terra girando no espaço.
Isso estava lincado a uma conversa sobre a visão do artista, mas que pode perfeitamente servir de instrumento para convivência democrática do ser humano na sociedade.
Sempre pensei dessa maneira. A tolerância com a opinião alheia,além de tudo,é índice de civilidade. Mas parece que aquelas brincadeiras infantis, ”eu vi primeiro, é minha”, ou, “quem primeiro sentiu , daí saiu”, sobrevivem quando as pessoas se expressam sobre um passado recente, ou mesmo sobre uma frente qualquer do conhecimento humano, denunciando posse e ciúme.Certa feita, um interessadíssimo formando da PUC, realizou um simpósio sobre uma questão indígena candente, e levou pessoalmente um convite até ao maior conhecedor do assunto, senador Darci Ribeiro, para a sua participação.
Qual foi sua surpresa, ganhou uma tremenda bronca: “Como o senhor faz isso sem me consultar?”.
O País anda assim… Cheio de donos. Não bastasse as diferenças econômicas e sociais agudas que convivemos, ainda enfrentamos a falta de democracia na área do conhecimento. Mais ainda. A intolerância com o entendimento dos outros em qualquer assunto, mantém vivo o odioso espírito desenfreado de competição que tanto mal nos causou nestes findos “tempos modernos”. Viva o pós-tudo! Depois reclamam que a juventude não tem interesse. Como? Se nem lhes deixam falar.

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